segunda-feira, 18 de outubro de 2010

drummond e manoel de barros

boa tarde!
venho aqui registrar alguns poemas do livro "antologia poética", de carlos drummond de andrade — grande poeta e escritor brasileiro, nascido no ano de 1902 em minas gerais.

partes de "o lutador"
"lutar com palavras
é a luta mais vã.
entanto lutamos
mal rompe a manhã.
são muitas, eu pouco.
algumas, tão fortes
como um javali.
não me julgo louco.
se o fosse, teria
poder de encantá-las.
mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
(...)
lutar com palavras
parece sem fruto.
não têm carte e sangue...
entretanto, luto.

palavra, palavra
(digo exasperado)
se me desafias, aceito o combate.
(...)
luto corpo a corpo,
luto todo o tempo,
sem maior proveito
que o da caça ao vento..."

parte de "memória"
"as coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão."

parte de "lira romantiquinha"
"acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?
(...)
minh'alma chove
frio, tristinho
não te comove
este versinho"

encontrei agora pela internet um texto ótimo e que tem tudo a ver com o projeto, do manoel de barros — "soberania"
"naquele dia, no meio do jantar, eu contei que
tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo
do vento escorregava muito e eu não consegui
pegar. eu teria sete anos. a mãe fez um sorriso
carinhoso para mim e não disse nada. meus irmãos
deram gaitadas me gozando. o pai ficou preocupado
e disse que eu tivera um vareio da imaginação.
mas que esses vareios acabariam com os estudos.
e me mandou estudar em livros. eu vim. e logo li
alguns tomos havidos na biblioteca do colégio. 
e dei de estudar pra frente. aprendi a teoria
das idéias e da razão pura. especulei filósofos
e até cheguei aos eruditos. aos homens de grande
saber. achei que os eruditos nas suas altas
abstrações se esqueciam das coisas simples da
terra. foi aí que encontrei einstein (ele mesmo
— o alberto einstein). que me ensinou esta frase: 
a imaginação é mais importante do que o saber.
fiquei alcandorado! e fiz uma brincadeira. botei
um pouco de inocência na erudição. deu certo. meu
olho começou a ver de novo as pobres coisas do
chão mijadas de orvalho. e vi as borboletas. e
meditei sobre as borboletas. vi que elas dominam
o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no
corpo. (essa engenharia de deus!) e vi que elas
podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as
próprias asas. e vi que o homem não tem soberania
nem pra ser um bentevi."

o texto foi extraído do livro "memórias inventadas — a terceira infância", editora planeta. 

até logo,
beijos!

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